Retorno do horário de verão no Brasil: Impactos multidimensionais para Pernambuco

A retomada do horário de verão no Brasil voltou ao debate público em 2025 após recomendação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que identificou a medida como estratégia para aliviar a pressão sobre o sistema elétrico durante o período seco, caracterizado pela redução da geração hídrica, considerando o aumento previsto no consumo médio anual de energia de 3,6% até 2029 (ONS, 2025). Historicamente, o horário de verão foi adotado com o intuito de deslocar o pico do consumo de energia elétrica para o período da tarde, aproveitando melhor a luz natural, especialmente entre 18h00 e 21h00, o que poderia gerar economia significativa no uso das usinas termelétricas, mais poluentes e custosas (ONS, 2025). Contudo, a ausência da medida desde sua suspensão em 2019 está associada a mudanças nos padrões de consumo e dúvidas sobre seus benefícios reais, levando o Ministério de Minas e Energia a vetar a retomada do horário em 2024, apesar das propostas apresentadas (Ministério de Minas e Energia, 2024). Alternativas técnicas foram sugeridas pelo ONS, incluindo a antecipação da operação das usinas térmicas e a finalização de projetos de transmissão elétrica, visando mitigar os impactos do período seco sem recorrer exclusivamente ao ajuste do horário (ONS, 2025).

No contexto do estado de Pernambuco, essa discussão adquire contornos específicos devido à matriz energética local, concentração dos setores econômicos e características climáticas regionais. Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética, a EPE, Pernambuco apresenta consumo residencial médio de aproximadamente 174,5 kWh mensais e destaca-se industrialmente o Complexo do Porto de Suape, que consome grandes volumes de eletricidade para operações logísticas e industriais (EPE, 2024). Além disso, de acordo com a Neoenergia Pernambuco (2024), o setor comercial e de serviços, especialmente o segmento de bares e restaurantes, tem potencial para experimentar um aumento em faturamento durante o horário de verão, devido à maior ocupação dos estabelecimentos nos horários de maior luminosidade. Isso impactaria positivamente a economia local, promovendo geração de emprego e incremento da circulação econômica em setores diretamente influenciados pelo aumento da permanência das pessoas em atividades noturnas.

No âmbito ambiental, o retorno do horário de verão é defendido por especialistas como uma forma de reduzir a dependência das termelétricas fósseis e, consequentemente, as emissões de gases do efeito estufa, alinhando-se às metas de sustentabilidade do país (Instituto de Energia e Ambiente, 2025). Porém, críticos salientam que a real eficiência ambiental da medida é limitada, considerando que o deslocamento temporal do consumo não necessariamente diminui o volume total consumido, além de implicar aumentos no uso de ar-condicionado durante as tardes mais quentes provocadas pelo adiantamento do relógio, o que pode neutralizar economias e até aumentar o consumo em certas regiões (Silva & Oliveira, 2023). Tal ponderação tem grande importância para Pernambuco, estado que já enfrenta desafios climáticos intensificados pela seca e oscilações na oferta de água, elementos que influenciam diretamente o padrão de consumo energético residencial e agrícola.

No que tange aos aspectos sociais e de saúde pública, estudos apontam que a alteração do relógio biológico humana provocada pelo horário de verão pode acarretar problemas temporários na qualidade do sono e no bem-estar geral da população, como fadiga e maior incidência de acidentes nos dias imediatamente posteriores à mudança (Castro et al., 2022, p. 56). Em Pernambuco, populações vulneráveis e trabalhadores em setores que demandam horários fixos — como saúde, segurança e agricultura — poderiam ser mais impactados, sendo recomendadas políticas públicas para atenuar consequências sociocomportamentais (Secretaria de Saúde de Pernambuco, 2024). Adicionalmente, o maior aproveitamento da luz natural para atividades culturais e de lazer contribui para a socialização e segurança pública, uma vez que as ruas permanecem iluminadas por mais tempo, reduzindo potencialmente índices de criminalidade (Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, 2024).

Considerando o panorama econômico, energético, ambiental e social, o retorno do horário de verão no Brasil e seus impactos para Pernambuco exige avaliação multidisciplinar e contínua. Os benefícios potenciais para a economia local e para a sustentabilidade energética contrastam com os desafios para a saúde coletiva e a adaptação cultural da população. Por isso, o debate deve priorizar a transparência dos dados e a interlocução entre órgãos governamentais, especialistas e sociedade civil, garantindo que as decisões políticas sejam pautadas em evidências empíricas e considerem as especificidades regionais (ONS, 2025; EPE, 2024; Neoenergia Pernambuco, 2024).

Notícias relacionadas