
O clima festivo das festas juninas, com música alta, fogos, fogueiras e cores vibrantes, é sinônimo de celebração para muitos, mas pode representar um desafio sensorial para pessoas neurodivergentes. Para quem tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), TDAH ou outras condições, a sobrecarga de estímulos pode causar ansiedade e crises. Especialistas apontam que, com pequenas adaptações, é possível tornar o São João mais acolhedor e acessível.
“O que acontece é que, para o cérebro neurodivergente, esse é um momento de sobrecarga de informações, que gera ansiedade”, explica Ana Paula Calado, psicoterapeuta da Clínica Mundos. O barulho dos fogos, o calor e o cheiro da fogueira, a movimentação intensa e o toque inesperado nas brincadeiras podem ser gatilhos sensoriais. Para lidar com isso, práticas como o uso de fones abafadores, roteiros visuais e preparação prévia com vídeos e ensaios ajudam a garantir uma experiência mais confortável. Também é essencial respeitar os limites e o tempo de cada pessoa. “Ela não precisa estar na quadrilha se isso causar sofrimento. Ela pode estar ali de outro jeito, no seu tempo, com acolhimento e apoio”, orienta Ana Paula.
Entre as sugestões de adaptação estão a criação de espaços silenciosos, flexibilização no uso de roupas típicas, redução do volume da música em horários alternativos, sinalizações visuais e capacitação de profissionais. Para Ana Paula, “a inclusão é um processo contínuo e afetuoso. Quando pensamos nas necessidades sensoriais e emocionais de cada um, estamos dizendo: você é bem-vindo, do seu jeitinho. E isso é o que realmente importa numa festa popular como o São João”.